Na minha peregrinação musical, está rolando no meu mp3 player os seguintes álbuns: Astral Weeks de Van Morrison, Clássicos do Funk Vol.2 e Sobrevivendo do Inferno de Racionais Mc's.
Excluindo o Astral Weeks, os dois discos que sobram tem algumas coisas em comum e distâncias também abismais.
Musicalmente falando ambos utilizam muitos samples e batidas eletrônicas e afins. A meu ver o único instrumento é a voz dos cantores. Nesse quesito os paulistanos se dão melhor, no meu ponto de vista.
No rap paulista há um tom mais sombrio, mais frio, mais sofrido. Tem um ar de revolta maior. Ao final da audição dos Racionais você fica incomodado. Por outro lado o rap carioca da minha adolescência fala sobre paz e amor de uma maneira mais leve, divertida. Obviamente os dois tipos tratam do tema da violência, grande algoz do eixo Rio-São Paulo. Ambos são expressões culturais da favela/periferia.
Não pretendo me aprofundar sobre o tema, nem nada do tipo. Só achei curiosa as diferenças. Não posso falar sobre a realidade paulista. Só tive na cidade um punhado de vezes e conheço de maneira superficial, mas posso falar do que eu me lembro.
Lembro que no final da década de 80, S. ia todo o fim de semana curtir o baile de charme em Marechal Hermes. O que me remete imediatamente a letra do “Rap da Diferença” (aquele que fala: qual a diferença entre o charme e o funk? Um anda bonito, o outro elegante). A mesma S. me fez pedir pro meu pai comprar um LP do Furacão 2000 (a n. 1 do Brasil). Engraçado que na minha fita de aniversário de 6 anos aparece um trecho desse disco. Aliás, acho que tenho esse disco até hoje. Vou ver. Enfim, esse foi o meu primeiro contato com o funk.
Nas minhas andanças de ônibus, estava lembrando que no fantástico (pode ter sido Jornal Nacional ou RJ TV) falando sobre as brigas nos bailes funks. Que a prefeitura ia proibir e tal. Acho que a partir daí veio uma mobilização da galera do funk da minha época (1995) de fazer raps em resposta a essas brigas de gangs. As letras sempre falando pra “curtir o baile na moral”. Depois que veio a onda de falar “com muito amor e carinho”. Quando começou a onda da putaria eu estava longe do funk.
É engraçado ouvir essas musicas hoje em dia. Eu realmente achava muita musica bonita. Sem dúvida a que eu mais gostava eram as do Claudinho e Buchecha. Não é a toa que eles foram os únicos que conseguiram sair do gueto. Depois veio Bonde do Tigrão, MC Créu e outras bobagens. Todos os funkeiros cantavam mal. Incrível. Voz toda dobrada, cheia de reverb pra disfarçar.
Já o rap paulista é aquela coisa mais falada, né? não precisa dessas magicas pra voz. Como eu disse, é um rap que incomoda. E é essa a intenção deles. A verdade é que o rap carioca tem mais a ver com o funk melody e o rap paulista com o hip-hop. Particularmente eu prefiro o carioca, mais swingado, mais feliz apresar dos pesares. Menos revoltado. Se bem que quem lê a letra do Rap da Felicidade não tem como dizer que não é musica de protesto. A diferença primordial está justamente na melodia. De cantar junto e dançar. Se por um lado esse artifício musical deixa a mensagem um pouco na retaguarda, por outro dá mais acessibilidade, por que, convenhamos, é muito chato ficar ouvindo um cara falando em cima da mesma batida. O que é o caso do Racionais.
Esse post tá ficando mais longo do que eu esperava. Vou ficando por aqui então.
Inté
2 comentários:
baile charme e, depois, cachorro quente na praça de marechal! rsrs
:*
Minha mãe tem os cds do Rap Brasil ate hoje!
beijos
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