Muitas vezes me esquivei em ir ao Mausoléu dos Monteiro. Um lugar onde tenho lembranças de minha tenra infância, mas que ao ver hoje, não tem absolutamente nada a ver comum com essas lembranças. Não digo pelas pessoas que lá moram, praticamente as mesmas, com algumas faltas, é verdade, mas ainda assim o núcleo base. Não sei se a minha memória infantil e feliz faz com que eu tenho essa sensação tão nostálgica, nem se essa felicidade condiz com a realidade. Sei que as lembranças são minhas e a lembrança é algo muito particular.
O fato é que durante algum tempo eu evitei em ir para lá. Evitei porque a realidade entrava em conflito com as minhas lembranças. A decadência e a sujeira fizeram com que a casa se afastasse cada dia mais das minhas lembranças tenras. A casa repleta de gente de um colorido com todas as nuances do arco-íris se transformou em um mausoléu em tons de cinza. A população diminuiu a metade. A casa foi subdividida e sublocada. Essa é a triste realidade atual que contrasta com minha memória.
Por outro lado, é no Mausoléu que estou entre os meus. E especialmente agora, nesses dias difíceis pra mim, é onde encontro minha fuga da realidade. Um paradoxo estranho, pois durante anos fugi do encontro com a realidade decadente que transformou a casa em Mausoléu e ao mesmo tempo, em dias difíceis é onde encontro minha fuga da realidade cruel que me aflige. Mas o que é a vida se não o paradoxo da morte?